OBS=Durante a leitura do texto serão encontrados questionamentos, que não precisam ser necessariamente respondidos aqui, por escrito. A finalidade é permitir que a pessoa que o lê, possa avaliar se o está entendendo ou não e ao mesmo tempo, questionar seu posicionamento diante do que lê. Porém, isto não impede que quem o queira, os responda por escrito ou faça perguntas se dúvidas surgirem. Além disso, os questionamentos aparecem intercalados no texto, permitindo que quem o leia, possa lê-lo aos poucos, se assim o quiser. A finalidade principal do texto é despertar discussões, para que o mesmo permita um estudo dinâmico e não, estático.
Para se entender a melhor forma de ler a Bíblia, é necessário ter-se em mente alguns fatos:
1º) O termo BÍBLIA vem do grego (TÀ BIBLÍA = “os livros”), que passando para o latim se tornou BIBLIA; em português, BÍBLIA.
A Bíblia não é só um livro, mas uma BIBLIOTECA, agrupados em dois grandes conjuntos: o ANTIGO e o NOVO TESTAMENTO (abreviando: AT, NT – estas abreviaturas serão muito utilizadas daqui para a frente!). O termo TESTAMENTO vem do latim TESTAMENTUM, tradução da palavra hebraica que significa “aliança”.
A Bíblia é chamada freqüentemente a ESCRITURA, as ESCRITURAS, as SAGRADAS ESCRITURAS.
A primeira parte da Bíblia, o AT, é comum aos judeus e aos cristãos, mas com algumas diferenças.
Os judeus, seguidos pelos evangélicos, reconhecem somente os livros escritos em hebraico, ou seja, 40; os católicos acrescentam mais 6, escritos em grego; a estes os evangélicos chamam livros “apócrifos”; os católicos, “DEUTEROCANÔNICOS”, isto é, que entraram em segundo lugar para o cânon ou regra da fé.
O NT, igual para todos os cristãos, tem 27 livros.
A “biblioteca” do cristão – ou a Bíblia – contém, portanto, 67 livros (segundo os evangélicos) ou 73 (segundo os católicos). Para designá-los são usadas abreviaturas que a própria pessoa encontra nas primeiras páginas de sua Bíblia. O sistema de abreviaturas tem pequenas diferenças em algumas edições da Bíblia, mas tende a se uniformizar.
Para facilitar o uso da Bíblia, Estevão Langton teve a idéia de dividir todos os livros em capítulos numerados; isto se deu em 1226. Em 1584, numa viagem de Lião a Paris, feita de diligência, o editor Roberto Estevão numerou quase todas as frases destes capítulos: é a divisão em versículos, que não corresponde sempre ao sentido do texto, mas é muito prática, porque todas as edições da Bíblia a adotaram.
Só o hábito de uma leitura constante pode nos familiarizar com a Bíblia!
PENSANDO:
- Você entendeu o significado dos termos BÍBLIA e TESTAMENTO?
- Porque há diferenças entre o número de livros do AT judaico e evangélico e o dos católicos?
- Você sabe reconhecer bem as abreviaturas dos livros bíblicos? Por quê?
- Você se acha familiarizado com a Bíblia? Por quê?
- Na sua casa, a Bíblia possui um lugar de destaque apenas como enfeite ou é um ponto de reunião da família para ouvir a Palavra de Deus?
- Você possui o hábito de ler um trecho da Bíblia diariamente? Por quê?
- Quais são as maiores dificuldades que você encontra para ler e/ou entender os textos bíblicos?
2º) Em que línguas foram escritos os textos da Bíblia.
O AT foi escrito em HEBRAICO (com algumas passagens em aramaico), com exceção de alguns livros escritos em grego. Às vezes chama-se o texto hebraico de “TEXTO MASSORÉTICO” (os “massoretas” são os sábios judeus que, a partir do século VII de nossa era, colocaram vogais no texto para facilitar a leitura do hebraico que, como o árabe, normalmente se escreve apenas com as consoantes).
O AT foi traduzido para o grego a partir do século VII a.C., em Alexandria.. Essa tradução, bastante heterogênea, é chamada “OS SETENTA” (fala-se também “A SETENTA”, “A SEPTUAGINTA”), abreviação de “tradução dos setenta (70) sábios” que, conforme a lenda, traduziam o texto hebraico do Pentateuco. Conhecem-se outras traduções gregas antigas: a de Áquila, Símaco, Teodocião.
O NT foi escrito inteiramente em GREGO, na língua “comum, popular” da época, que não é mais o grego clássico (este grego é chamado de KOINÉ ou “língua comum”). Dentre as traduções antigas podem ser mencionadas a SIRÍACA, a COPTA, e a LATINA . A versão latina chamada “VULGATA” (“EDITIO VULGATA” ou “edição vulgarizada ”) foi feita por São Jerônimo (fim do século IV, começo do século V d.C.).
As traduções foram feitas como adaptação à linguagem da época. A partir do momento que o grego não era mais entendido, fez-se necessário a tradução para o latim, que era uma língua mais comum na época, devido à expansão que teve o Império Romano.
Os especialistas estudam e traduzem os textos originais, isto é, os textos hebraicos, do AT, e os gregos, do NT. Isto porém, só começou a se concretizar realmente após o Concílio Vaticano II, com o “aggiornamento” (“a volta às origens”).
PENSANDO:
- Quais as línguas em que a Bíblia foi escrita?
- Por que o texto hebraico também pode ser chamado de “massorético”? Quem eram os “massoretas”?
- O que é a chamada “tradução dos Setenta”?
- Por que o NT foi escrito em grego e não latim,já que seu período de formação escrita foi durante o Império Romano?
- Por que a Bíblia foi traduzida para o latim nos séculos IV e V d.C.?
- Qual a importância dos especialistas estudarem e traduzirem os textos, diretamente de seus originais?
- Você já ouviu falar no Concílio Vaticano II? Qual a importância dele para a Igreja atual?
3º) A Bíblia não foi escrita no exato momento em que os fatos descritos por ela, aconteceram. Os autores bíblicos narraram fatos acontecidos muitos séculos ou milhares de anos antes de eles escreverem, como também muitos anos após fatos decorridos.. Na maioria das vezes, não tinham por finalidade fazerem uma descrição histórica dos fatos narrados, mas a lembrança dos fatos ocorridos à luz da fé.
PENSANDO:
- A partir do texto, qual era a finalidade dos escritores bíblicos?
- O que é necessário para se entender a mentalidade em que a Bíblia foi escrita?
- Qual a diferença entre a narrativa de um fato histórico e a narrativa da lembrança de um fato ocorrido à luz da fé?
4º) O “conteúdo de vida” (“SITZ IM LEBEN”) dos autores bíblicos, que usavam modos de falar, comparações e costumes diferentes dos nossos. Para se entender a mentalidade em que a Bíblia foi escrita é necessário conhecer o contexto histórico, cultural, econômico, social, lingüístico, político e religioso em que seus escritores estavam inseridos.
PENSANDO:
- Os autores bíblicos pensavam como nós? Explique.
- Qual o significado da expressão alemã “Sitz im Leben”?
- O que é necessário para se entender a mentalidade em que a Bíblia foi escrita?
5º) Os diferentes GÊNEROS LITERÁRIOS utilizados na escrita da Bíblia e identificados pela EXEGESE (do grego “explicação” – é a ciência de interpretação da Bíblia) moderna: coleções de cânticos, provérbios, escritos doutrinários, livros proféticos, coleções de cartas, coleções de leis, escritos de revelação, “livros históricos”, Evangelhos. Estes são os grandes gêneros literários.
Além disso, temos os diversos gêneros menores: a saga, o mito, o conto, a fábula, o paradigma, a pregação, a exortação, a confissão, a narrativa para fins didáticos, a parábola, a comparação, a metáfora, o oráculo profético, a lei, a máxima sapiencial, o provérbio, o enigma, o discurso, o contrato, a lista, a oração. E esta enumeração não é, de maneira nenhuma exaustiva. O trabalho da CRÍTICA DAS FORMAS (ciência que consiste em descobrir formas fixas dos tipos acima descritos, na vida de todos os dias ou na literatura, nas manifestações orais ou escritas do homem, em descrevê-las e, por fim, em determinar a intenção de sua linguagem e seu “Sitz im Leben”) dos últimos decênios e da atualidade descobriu na Bìblia um número muito maior ainda de gêneros literários fixos e continua a descobri-los.
PENSANDO:
- Você já havia percebido quantos tipos de gêneros literários a Bíblia possui? Qual a importância de saber isto e de identificá-los?
- Você entendeu o que é exegese? E crítica das formas?
- Você desconhecia algum dos gêneros literários citados, sejam eles maiores ou menores?
CONCLUINDO
Vê-se assim, que cada acontecimento encerra em si numerosos sentidos, que só progressivamente se revelarão: seu relato poderá ter um sentido quando redigido, e depois, retomado muito tempo mais tarde e ao ser relido em relação com os outros relatos, desvendar outros sentidos mais profundos.
Será preciso, pois, prestar-se atenção, ao ler-se a Bíblia, nestes diversos sentidos: no SENTIDO PRIMÁRIO, aquele que o texto pode ter no momento em que foi redigido, mas também nestes SENTIDOS MAIS PROFUNDOS que Israel percebeu ao relê-los, e naqueles que nós podemos descobrir graças à nossa própria história.
Por isso é que para se entender a Bíblia, ou para falar sobre ela, é preciso estudar bastante. Não é preciso ser doutor em Bíblia; porém, é necessário um mínimo de aprendizado para se falar sobre ela. Esta é a importância e utilidade dos cursos sobre a Bíblia, das aulas, palestras e “círculos bíblicos”. Quando não se pode participar desse tipo de estudo, deve-se pedir explicações a quem estudou e entende do assunto. Do contrário, acaba-se não entendendo o que a Bíblia diz ou confundindo-se demais. E quando se fala sobre a Bíblia sem entender, fala-se bobagem ou dá-se uma interpretação pessoal nem sempre fiel e exata. O mais importante não é o que” EU ACHO que a Bíblia quer dizer para mim”, mas REALMENTE “o que a Bíblia quer dizer para mim”.
Embora não se entenda certas coisas na Bíblia, não se pode dizer que é difícil entendê-la. Pode-se ler a Palavra de Deus e entendê-la perfeitamente, porque Deus fala com simplicidade, ilumina nosso entendimento e toca o nosso coração, quando lemos a Palavra Dele. Pode-se tirar grandes frutos de sabedoria, lendo-se todo o dia a Bíblia. São Francisco de Assis e Santa Teresinha não precisaram conhecer a crítica textual, a crítica das formas e o “Sitz im Leben” para entender o Evangelho, mas souberam colocá-lo em prática muito bem! Porém, isto não justifica o desconhecimento, quando temos meios para alcançar um maior conhecimento... Há de fato alguns costumes, modos de viver, gêneros literários, expressões próprias, que ninguém é obrigado a entender. Por isso existem os especialistas, os estudiosos, os professores de Bíblia, para ajudar. Tentar explicar a Bíblia para si mesmo é, muitas vezes, perigoso. Pode-se até dizer e fazer coisas contrárias à Palavra de Deus. A nossa própria Igreja, a Igreja Católica, se preocupou em entender e estudar melhor o que a Bíblia diz – daí nascendo ciências como a exegese e a crítica das formas – para evitar erros do passado que hoje a Igreja reconhece, como por exemplo, querer atrelar a ciência à fé. Por isso, as Bíblias católicas trazem sempre uma Introdução geral e mapas, nas primeiras páginas; depois fazem uma introdução para cada livro ou cada grupo de livros e trazem ainda muitas explicações ao pé das páginas.
Logo, por ser a Bíblia uma obra humana, pode-se estudá-la, quer tenha quer não tenha fé. Pode-se até perceber o sentido que os autores quiseram apresentar. Mas este mesmo sentido não será compreendido realmente, a não ser que se entre com eles na sua pesquisa e caminhe com eles na mesma fé. Como compreender o que não se ama?
PENSANDO:
- Cada acontecimento bíblico possui um único sentido? Explique.
- Quais são os três tipos de sentido que devemos prestar atenção ao ler a Bíblia?
- Qual o sentido bíblico que nos toca mais de perto?
- É preciso ser doutor em Bíblia para entendê-la? Por quê?
- É importante ter ou buscar um mínimo de aprendizagem para entender a Bíblia? Por quê?
- O texto diz que “tentar explicar a Bíblia por si mesmo é muitas vezes perigoso”. Você concorda com isto? Por quê?
- Você acha importante um estudo bíblico sério e aprofundado para uma melhor vivência no seu dia-a-dia? Por quê?
- Diz um ditado que “quem canta, reza duas vezes”. Você concorda que “quem estuda sobre Deus e sua Palavra, também reza duas vezes”? Por quê?
FONTES:
- ARENHOEVEL, Diego –“Assim se formou a Bíblia – para você entender o AntigoTestamento” – São Paulo – Edições Paulinas – 1978 – pg 31.
- CHARPENTIER, Etienne – “Para ler o Antigo Testamento – Orientação inicial para Entender o Antigo Testamento” – São Paulo – Edições Paulinas – l988 - pg 12 –14.
- _____________________ - “Para uma primeira leitura da Bíblia” – Coleção Cadernos Bíblicos nº 1 – São Paulo – Edições Paulinas – 1986 – pg 7 - 9, 14 - 16.
- LOHFINK, Gehrard – “Agora entendo a Bíblia – Para você entender a Crítica das Formas” – São Paulo – Edições Paulinas – 1978 – pg 29, 38, 39, 56, 57.
- STRABELI, Fr. Mauro – “Bíblia: perguntas que o povo faz” – São Paulo – Edições Paulinas – 1990 – pg 18, 19.